Os Mochos
Na 3ª feira de Carnaval deste ano da graça de 2006, o Ventor andou atrás dos mochos, ali pela zona norte de Santarém, a cerca de 20 Kms, por caminhos de terra entre campos salpicados de amendoeiras floridas, cerca de uma dezena. Ele fez uma das suas lindas caminhadas e parou junto de uma grande árvore para fotografar alguns passarinhos que se entretinham lanchando, e começou a pensar que por ali teria forçosamente que haver mochos.
Diz que os pássaros permaneceram na árvore mas sempre saltitando protegidos pelos ramos, quase sempre nos 50% da árvore oposta ao Ventor. De repente ouviu aquilo que lhe parecia um som familiar, um “piu-piu” como o da nossa amiga Mouchinha. Encaminhou-se lentamente, estilo leopardo, para o lado de onde vinha o som e encontrou, sobre um poste, um rapazola penudo que rodou sobre si mesmo e fixou o olhar naquele arcabouço que se deslocava na sua direcção.
Um mocho observando-me
«Ora, ora, Ventor, só podias ser tu»!
“Olá! Não fujas que eu não te faço mal” – disse-lhe eu.
«Nah, nah! Tens aí um olho maior que os meus e não gosto disso. Pensas que eu sou parvo, Ventor? Andas aí armado em Paparasi! Mas olha, a minha namorada mascarou-se de fada e eu chamo, chamo, e ela não me liga! Se deres por aí uma volta e deres com ela, talvez eu consiga convencê-la a posar para ti»!
“Então e tu? Porque não a procuras”?
«Eu? Bem, eu não sou lá muito fotogénico, mas está bem. Talvez consigas fotografar os dois! Quanto a procurá-la … não vale a pena. Quando se mascara de fada, ninguém dá com ela».
De repente, o Ventor ouviu outro piu-piu e caminhou para lá. Então o mocho foi à frente do Ventor para o mesmo lado. À medida que o Ventor se aproximava, ouvia a namorada a ralhar com ele.
A mocha
… «ainda nem somos noivos e já fazes negócios com estranhos, como se fosses meu senhor»!
… e continuou a gritar, e o Ventor viu o mocho voltar para o poste onde tinha estado e ela, zangada, voou atrás dele. Mas, ao mesmo tempo que ela se aproximava, o mocho saiu do poste e ela pousou sobre a oliveira ao lado. Ele foi pousar noutra oliveira mais afastada e ela levantou voo atrás dele e foi pousar na outra ao lado e sempre a ralhar.
O Ventor quase só a ouvia a ela.
«Olha lá meu esbugalhado, que negócio era aquele entre tu e o Ventor»?
“Não era negócio nenhum. O Ventor pediu-me para nós o deixarmos tirar umas fotos. Só isso! Eu disse-lhe que sim mas que primeiro teria de te encontrar”.
«Meu grande aldrabão esbugalhado! Nem tens habilidade para mentir nem para me encontrares. Tu querias, pois eu ouvi bem, que o Ventor me procurasse porque tu não eras capaz, pois eu estava bem escondidinha»
“Não é verdade, não é verdade, não …eu …“
«Cala-te mentiroso … ainda tu querias ficar meu noivo. Nunca»!
“Mas …”
Nem mas, nem meio mas. O Ventor nunca terá uma foto minha e tu … »
“Não digas, não digas … não me faças o mocho mais infeliz do mundo”!
«Se deixares que o Ventor te fotografe eu….
O amor chama do outro lado
O Ventor virou-lhe as costas e foi até às 4 amendoeiras floridas que faziam bandeirame à “picada” regressando aos seus amigos para mais uma brincadeira de Carnaval, voltando ainda, ao cair da noite, a tentar animar aquele casalinho de mochos desavindos, mas em vão.