Renasce a Primavera
Afinal, estava tudo bem!
De entre os insectos, saiu uma espécie de fada vestida de azul, como eu gosto. Primeiro, parecia-me uma ninfa do Tejo, uma das minhas amigas que gosta de vistoriar os outeiros em volta de Lisboa. Depois, ainda julguei tratar-se de uma fada carnavalesca, mas não. Era, isso sim, uma das minhas mais belas amigas - a Primavera!
O renascer das folhas dos freixos
Perguntei-lhe o que fazia ali e ela disse-me que desceu mais cedo para ver o que o seu irmão Inverno andava a fazer. Chegou a pensar que ele se estava a intrometer no seu âmbito temporal e que isso não lhe agradava pois ainda faltava muito tempo para vir tomar conta do seu ciclo. Tivemos uma belíssima conversa sobre como fazer tudo de melhor pelo nosso Planeta Azul.
Como me viu muito admirado disse-me para não pensar muito porque ela apenas chegou até mim devido à informação de um nosso amigo comum. Um dos nossos amigos pica-paus que andava por ali a namoriscar, apercebeu-se desta nossa Primavera quando ela, no meio do bosque, se desmascarava. Depois, um pouco envergonhado, resolveu tentar passar despercebido, parecendo não ligar à namorada e seguindo como se esvoaçasse, à deriva, cantarolando ou assobiando.
De repente, o pica-pau voltou para trás para dizer à Primavera que andava por ali o Ventor e que se ela se distraísse poderia ser apanhada, por ele, a tirar a máscara carnavalesca ou a vestir as suas novas vestes bem coloridas. Ela sorriu para o pica-pau, dizendo-lhe que não haveria qualquer problema e que o Ventor sempre gostou de a ver bem colorida e sempre a respeitou, mesmo quando aparecia trombuda e sem reminiscências de qualquer sorriso.
Então, o pica-pau prosseguiu o seu destino todo encantado, relembrando ao Ventor que também se sentia contente com as belezas transformadas pelo Inverno, o maninho desta nossa bela Primavera.
De facto, toda a algazarra foi desencadeada pelo meu amigo pica-pau malhado. Ele andava a procurar, entre as árvores, nas gretas profundas das cascas, as larvas dos insectos para oferecer de petisco à namorada e os insectos prepararam-se para uma guerra, certamente, perdida. O Ventor chegou e todos se insurgiram na reivindicação da protecção necessária à sua permanência no bosque.
A Primavera que se mantinha alheia aos problemas da bicharada confidenciou-me que lhe apetecera vir mais cedo para participar nas brincadeiras de Carnaval connosco e que já não se importava que o Inverno a visse por cá pois decidira mascarar-se para o Carnaval e tirar a máscara para assistir, linda como ela sabe ser, ao trabalho do irmão e, quem sabe, dar-lhe, se necessário, uma mãozinha para ir adiantando trabalho.
Uma dedaleira cheia de pujança, saúda o Ventor
De facto, eu tinha ouvido o pica-pau e fiquei a pensar se, desta vez, aquele malandro me iria deixar observar, mais de perto, os seus filhotes de 2009. Mas ele não quer nada comigo. Diz que sou humano e que dos humanos não poderiam esperar nada de bom. Mas ele pediu-me desculpa, porque o Senhor da Esfera os fez assim para se saberem defender de todos nós. Eu disse-lhe que era especial mas, de facto, deveriam afastar-se sempre de todos nós uma vez que os humanos apenas pensam em si, salvo raras excepções.
Disse-me, também, que era, exactamente, por isso, que eu não via por ali todos os meus outros amigos porque, tal como os gaios, tinham de procurar outros destinos, fugindo à avalanche humana que tem aparecido por ali. Já não há espaço para nós Ventor! Nem sei se, este ano, conseguirei criar os meus filhotes aqui. Tenho andado estes dias a observar o meu velho palácio a ver se lhe faça algumas reparações, mas não sei, não!
Por isso eu, pensando em todos aqueles meus amigos, apeteceu-me ir hoje fazer uma caminhada por aqueles lados. Vim desanimado pois não vi os gaios. Eles sumiram. Não se esqueçam de velar pelo nosso Planeta Azul, e não se esqueçam, também, que ele é tanto nosso como deles!
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Hoje, 09.02.26, 24 horas depois, já estava com saudades e voltei a caminhar de mãos dadas com a minha linda amiga. Fui dar com ela a brincar com as ninfas, entre as flores, em Algés, junto ao Tejo. Pedi-lhe para ficar por cá, mas sem pressas. Adoro os dias em que caminho a seu lado!