Hongo
Hongo, é uma beleza da criação. Toda a criação é bela, quando vista em liberdade, na Natureza. É um lince ibérico, nascido em Espanha e quis emigrar para Portugal. Pelo menos foi assim que nos contaram a sua história.
Um dia ouvi ou li, li ou ouvi, ou as duas coisas, uma pequena história sobre esse nosso amigo Hongo. A informação era a de que, em Vila Nova de Milfontes, tinha sido fotografado por câmaras automáticas de vigilância da Natureza, numa zona de caça associativa, este nosso amigo ao qual, pelos vistos, os homens dedicam parte da sua vida. Uma vida a que poderemos chamar uma nova caminhada colectiva, homem-lince.
De facto, o que está a ser feito, pelos espanhóis e pelos portugueses, em prol da defesa da continuidade da existência do lince ibérico entre nós é um trabalho que merece todo o nosso respeito, a nossa divulgação e todo o nosso apoio. As sociedades espanhola e portuguesa não podem deixar no esquecimento o lince ibérico. E acho que é uma causa majestática salvar do desaparecimento este belo animal. O mesmo direi dos defensores do lobo ibérico, lançados em saga semelhante. Acho mesmo ser responsabilidade nossa levar a luta o mais longe possível em defesa do ambiente adequado à continuidade desses nossos companheiros de caminhada e outros.

Mas voltando ao nosso amigo Hongo, segundo a informação disponível, nasceu em Aznalcázar na província de Andaluzia e faz parte da comunidade de linces do Parque Nacional de Doñana, a maior reserva biológica de Espanha e de toda a Europa, com uma superfície de 54.252 ha e estende-se pelas províncias de Huelva, Cádis e Sevilha e, em 1994, foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO.
Porque terá o nosso amigo Hongo ido parar a Vila Nova de Milfontes? Fez centenas de kms! Sentir-se-ia atacado de solidão, falta de companheiros, companheiras, liberdade limitada, demasiada presença humana ou teria embrenhado nele um espírito de aventura exploratória para obter outros espaços e refazer novo sistema de vida. Quem sabe, o seu espírito de aventura o levaria ao encontro de uma companheira, num local onde pudessem juntar os "trapinhos", no buraco côncavo de uma árvore do seu ambiente e conseguissem fazer nova colónia para avançar para outras conquistas territoriais! Serão os animais imbuídos do mesmo espírito aventureiro e conquistador do homem?
Vídeo do Youtube, Reserva Natural da Serra da Malcata, de Laura Martins, elaborado por alunos do 8º B do Ano Lectivo 2008-2009
Calculo que terão levado o Hongo "prisioneiro" para Doñana. Não por viajar sem passaporte e se deslocar de país mas por, eventualmente, ser pobre e mal agradecido para com aqueles que tanto terão feito pela sua existência. Terá pensado ele que não é muito agradável viver num local com uma temperatura quase constante de 15ºC, de verão e de inverno, ou melhor, nos ciclos dos solstícios e dos equinócios. Seja como for, ele decidiu e conseguiu, fazer uma temporada de férias por Milfontes e, talvez, porque não, bater o Ventor nas suas Caminhadas? Conheceu outros mundos, correu enormes perigos, atravessando estradas, auto-estradas, rios e represas. Ter-se-á desviado de várias inimigos e, certamente, terá muitas histórias para contar aos seus velhos companheiros de Doñana, tal como o Fernão Mendes Pinto fez quando regressou de outros mundos. As histórias repetem-se, em diferentes coordenadas, mas repetem-se. Quem me dera ouvir as histórias contadas pelo nosso amigo Hongo. Mas, se não as ouço, posso imaginá-las.
Mas tenho a certeza de uma coisa. O que o Hongo quis foi alargar os seus horizontes no nosso Planeta Azul.
Onde quer que estejas, boa sorte, Hongo.