O Charco dos Penudos
Nas minhas caminhadas por este Planeta Azul, vou apreciando tudo. Aprecio o verde dos bosque, as cores das flores, as nuvens no céu esvoaçando a reboque dos ventos, as árvores altas e o temor de levar com uma pinha na cabeça, quando caminho debaixo dos pinheiros (ainda por cima em dias de ventania), como me aconteceu há dias na serra de Sintra, ... Talvez nem acreditem mas, a fotografar umas flores, uma pinha quase me estragou as flores, a minha cabeça e a máquina. Vi pinhas caírem à frente e ao lado do carro, quando rodava debaixo de pinheiros mas antes disso, tivemos a sorte de ver correr, atravessando a estrada, um saca-rabos. Se calhar, ele fugia da possibilidade de também levar com uma pinha na cabeça. Concluí, pelo menos, que sempre há saca-rabos na serra de Sintra. Já não é só o ... diz-se, diz-se, o .. ouvi dizer. Consegui desacelerar o carro para ele ir em paz e segurança à sua vida.
O saca-rabos, magusto da Europa, Ásia e África. Na África, era estimado pelos egípcios por ser um devorador dos ovos dos crocodilos. Esta gravura de von Schreber, foi tirada da Wikipédia. Tal e qual como o rasteirinho que caminhava sobre o alcatrão da estrada, na serra de Sintra
Mas eu estava a falar de um charco, bem mais pequeno que a Lagoa Azul (o charco do saca-rabos). Foi de lá que ele fugiu atravessando a estrada.
Este outro charco de que falo, é um charco minúsculo, apenas um cantinho, fonte de água e fonte de vida. É neste pequeno charco que os meus amigos penudos se encontram com o Ventor. Ali bebem, ali se banham, ali se encontram para as suas conversas e ali me dão uma lição de que, neste mundo, a água é para todos.
Um pombo bravo (Columba oenas), amigo que há muito tempo não via, junto com as rolas bravas, os pombos torcazes, os estorninhos e demais passarada
É um charco pequeno, tão pequeno que não correm o risco de morrer afogados mas é o charco do seu encanto. Já lá passei horas a ver eles beberem e banharem-se e, apesar de algum receio, pela minha presença, creio que eles já se habituaram. Ali vejo pintassilgos, verdilhões, chapins, pintarroxos, pardais, rolas bravas, rolas turcas, pombos torcazes, pombos bravos, lavandiscas, estorninhos, ... pardais, e sei lá quantos mais.
Pombo torcaz (Columba palumbus L.), a imponência dos pombos
Este pombo é lindo e é imponente; é o maior de todos os pombos. Já somos amigos. Ele vem para uma das árvores junto de mim e espreita para dentro do carro, se calhar para ver se sou eu! Canta para mim, a dois metros da minha cabeça e, só depois de muitas mariquices é que vai a banhos! Não sei como eles, daquele tamanhão, não se espetam contra os acúleos das acácias com mais de 3 cm de comprimento.
Rola-brava, rola-comum (Streptopelia turtur) uma maravilha dos meus penudos
Elas já me topam, eu é que não sei se são as mesmas mas são, pelo menos, um casal. Não tem a técnica do pombo torcaz mas tem outra. Ela caminha para o charco, só ou acompanhada, debicando aqui e ali mas, sempre com o olho em mim. Ou só ou as duas (talvez um casal), lá ganham confiança e vão ao charco. Depois, se estiverem muito molhadas, pousam numa árvore junto de mim e enxugam-se. Por fim até cantam. Também me espreitam da árvore mas mais altas que o pombo torcaz. São as minhas belezas desde os tempos que as observava nos bosques de Adrão.
Um estorninho albino (Sturnus unicolor). Ele pertence aos estorninhos pretos mas nasceu albino
Ele caminha entre os amigos, bebe com eles e toma banho com eles. Quando aparece um grupo de estorninhos olho sempre a ver se vejo aquela manchinha branca no meio do verde ou no charco acastanhado de águas louras. Ele só lhe falta dar às asas e gritar: "estou aqui, Ventor! Fiz uma pausa para o banho mas tenho de ir à labuta arranjar comer para os meus filhotes". E ele lá vai rumo ao seu ninho com o bico cheio, atravessando por cima da auto-estrada até perde-lo de vista. É um trabalhador o meu amigo Albino!
É na minha caminhada entre amigos que reside a mais bela das poesias - as lições que os meus amigos me dão, me contando belas histórias da Natureza.